Exercício e telômeros: uma possibilidade de envelhecimento mais lento
- Camila Dias
- 29 de jan.
- 3 min de leitura

Envelhecer é um processo natural, mas muitas vezes de difícil relacionamento. Compreender alguns mecanismos internos pode nos ajudar nas escolhas diárias que fazemos e por consequência na relação com as questões que surgem "com o tempo". O envelhecimento envolve diversas mudanças biológicas ao longo da vida, entre os principais responsáveis por esse fenômeno estão os telômeros, estruturas presentes nas extremidades dos cromossomos, que desempenham um papel crucial na proteção do material genético e na regulação da longevidade celular. À medida que envelhecemos, os telômeros se encurtam, o que pode afetar a saúde e a capacidade regenerativa do organismo.
Elizabeth Helen Blackburn, bióloga e vencedora do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2009, fez descobertas revolucionárias sobre os telômeros e a telomerase. De forma técnica, os telômeros atuam como um "escudo" protetor, impedindo que os cromossomos se danifiquem ou se fundam entre si. À medida que as células se dividem, os telômeros vão se encurtando, e, quando atingem um comprimento crítico, a célula entra em senescência ou morre. A telomerase é uma enzima responsável por adicionar repetições de DNA aos telômeros, protegendo-os do desgaste e, assim, retardando o processo de envelhecimento celular (Blackburn et al., 2006). De forma prática, os estudos de Blackburn mostraram que quanto mais curtos os telômeros, maior a chance de as células entrarem em envelhecimento precoce, o que está associado ao desenvolvimento de várias doenças crônicas e ao envelhecimento em geral. No entanto, a telomerase pode combater esse efeito, já que sua atividade ajuda a manter ou até aumentar o comprimento dos telômeros, promovendo uma maior longevidade celular (Blackburn, 2005).
Então nos perguntamos, como manter ou aumentar a atividade da telomerase? Estudos vêm sugerindo que a prática regular de atividade física pode ser um fator crucial na modulação da atividade da telomerase e no retardamento do envelhecimento celular. Essa relação entre exercício e telômeros está sendo cada vez mais reconhecida, visto que o exercício não só melhora a saúde cardiovascular e a musculatura, mas também tem efeitos benéficos sobre o nível de estresse oxidativo e a inflamação, dois fatores que aceleram o encurtamento dos telômeros (Puterman et al., 2010).
Wang et al., 2018 demonstrou que indivíduos que praticam exercícios regularmente — especialmente atividades aeróbicas, como corrida e natação, e exercícios de resistência, como musculação — possuem telômeros mais longos em comparação com pessoas sedentárias. Além disso, a pesquisa sugere que a prática de exercício físico pode aumentar a atividade da telomerase, contribuindo para a manutenção ou até a regeneração dos telômeros. Esses efeitos são particularmente significativos em populações mais velhas, onde a manutenção da saúde celular é crucial para prevenir o declínio físico e mental. A explicação biológica por trás dessa relação está no impacto do exercício sobre o estresse oxidativo e a inflamação. O exercício regular ajuda a reduzir a quantidade de radicais livres no corpo, substâncias que danificam as células e aceleram o encurtamento dos telômeros. Ao melhorar a eficiência do sistema antioxidante do corpo, o exercício ajuda a proteger os telômeros e a garantir a integridade celular por mais tempo (Nieman, 2019).
Portanto, a atividade física regular não só promove benefícios para a saúde cardiovascular, metabólica e mental, mas também pode representar uma intervenção poderosa para retardar o envelhecimento celular. Ao contribuir para o alongamento dos telômeros e a ativação da telomerase, o exercício ajuda a preservar a vitalidade celular, retardando, assim, o processo de envelhecimento e aumentando a longevidade e qualidade de vida.
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Referências:
Blackburn, E. H. (2005). Telomeres and telomerase: Their mechanisms of action and the implications for human disease. European Journal of Cancer, 41(6), 905-913. https://doi.org/10.1016/j.ejca.2005.02.022
Blackburn, E. H., Epel, E. S., & Lin, J. (2006). Human telomere biology: A contributory role in aging, cancer, and chronic disease. Journal of the American Medical Association, 295(5), 563-574. https://doi.org/10.1001/jama.295.5.563
Nieman, D. C. (2019). Physical activity and telomere length: Implications for aging and health. Aging and Disease, 10(3), 775-784. https://doi.org/10.14336/AD.2019.0325
Puterman, E., Epel, E. S., & Blackburn, E. H. (2010). Physical activity and telomere length: The role of stress. Journal of Applied Physiology, 108(5), 1617-1624. https://doi.org/10.1152/japplphysiol.00099.2010
Wang, L., Li, J., & Zhang, Y. (2018). Exercise training and telomere length: A systematic review and meta-analysis. Journal of Sport and Health Science, 7(4), 439-447. https://doi.org/10.1016/j.jshs.2017.08.001
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