Reconectando corpo e mente: a atividade física na recuperação do estresse e trauma
- Camila Dias
- 26 de fev.
- 3 min de leitura

O estresse e o trauma têm um impacto profundo sobre a saúde mental e física dos indivíduos. Estudos demonstram que o estresse crônico está relacionado a uma série de condições graves, como ansiedade, depressão, hipertensão e doenças cardiovasculares, principalmente devido ao aumento contínuo dos níveis de cortisol, o hormônio do estresse. Quando esse estresse se mantém por longos períodos, o corpo perde sua capacidade de recuperar o equilíbrio, o que pode desencadear problemas significativos para a saúde. O trauma, por sua vez, vai além do estresse imediato e pode causar alterações permanentes na forma como o corpo e a mente respondem aos estímulos. A pesquisa de van der Kolk (2014) sugere que o trauma psicológico altera as respostas fisiológicas, gerando uma sensação constante de alerta e desconexão corporal, o que muitas vezes resulta em dores crônicas, distúrbios do sono e dificuldades emocionais profundas, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Nesse contexto, a atividade física surge como uma poderosa ferramenta no enfrentamento e na recuperação do estresse e do trauma.
Pesquisas comprovam que o exercício regular reduz significativamente os níveis de cortisol, melhora o humor e aumenta a sensação de bem-estar geral. A prática de atividades físicas também libera endorfinas, neurotransmissores que promovem uma sensação de felicidade e relaxamento, aliviando os sintomas de ansiedade e depressão. Outro efeito do movimento é a capacidade de restaurar a regulação emocional, atuando como um antídoto natural para o estresse. O estudo de Salmon (2001) aponta que o exercício físico, especialmente de intensidade moderada, tem efeitos antidepressivos e ansiolíticos evidentes, proporcionando benefícios imediatos para aqueles que lidam com altos níveis de estresse.
Na recuperação do trauma, a atividade física também desempenha um papel crucial, pois ajuda a reintegrar a pessoa ao seu corpo e à percepção de si mesma. Após uma experiência traumática, é comum que a pessoa se sinta desconectada de seu corpo, um mecanismo de defesa para lidar com as emoções intensas. Práticas como yoga, meditação e exercícios aeróbicos podem ser especialmente eficazes nesse processo, pois não apenas estimulam a recuperação física, mas também promovem a autoconsciência corporal e o controle da respiração, elementos essenciais para a regulação do sistema nervoso e a redução de sintomas traumáticos. Somado a estes fatores o movimento físico contribui significativamente para a autoestima e a autocompaixão, aspectos essenciais para aqueles que sofreram trauma. Ao dedicar tempo ao cuidado do corpo, a pessoa reafirma sua dignidade e valor próprio, promovendo um fortalecimento emocional que é fundamental na recuperação. A sensação de progresso e o aumento da capacidade física proporcionados pela prática regular de exercícios contribuem para a reconstrução da autoconfiança, o que é crucial para indivíduos que enfrentam os efeitos devastadores do trauma e do estresse. Segundo Craft e Perna (2004), a prática de exercício também oferece um senso de propósito e realização, o que pode ser particularmente terapêutico para aqueles que enfrentam dificuldades emocionais profundas.
Portanto, como evidenciado pelos trabalhos de Brittany Fair (2023) e respaldado por diversas outras pesquisas, a atividade física não se limita a ser uma forma de manter a saúde física. Ela é, na verdade, uma ferramenta terapêutica essencial no enfrentamento e na recuperação do estresse e do trauma. Exercícios regulares podem promover a restauração do equilíbrio físico e emocional, reduzir os efeitos do estresse e do trauma no corpo e ajuda a restabelecer uma sensação de bem-estar duradouro. Incorporar a atividade física na rotina diária representa um caminho valioso para aqueles que buscam superar as adversidades trazidas por experiências traumáticas e estressantes.
Referências:
Van der Kolk, B. A. (2014). The Body Keeps the Score: Brain, Mind, and Body in the Healing of Trauma.
Salmon, P. (2001). Effects of physical exercise on anxiety, depression, and sensitivity to stress: A review and synthesis. Clinical Psychology Review, 21(1), 33-46.
Craft, L. L., & Perna, F. M. (2004). The benefits of exercise for the clinically depressed. Primary Care Companion to The Journal of Clinical Psychiatry, 6(3), 104-111.
Fair, B. (2023). The Neuroscience of Yoga and Meditation. Handapring publishing
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